Renda fixa: O que é CDB, CDI, SELIC, LCA, LCI, LC, IPCA?


Hoje, quero ajudar principalmente quem está começando no mercado financeiro. Vou esclarecer uma dúvida comum que, embora pareça simples, pode acabar confundindo os iniciantes: as várias siglas financeiras que encontramos, especialmente na renda fixa. Essa parte deveria ser super simples para atrair as pessoas, mas, ao chegar em uma corretora, o iniciante se depara com centenas de opções: CDBs indexados ao CDI, Tesouro SELIC (que também é uma sigla, para quem não sabe), IPCA, e ainda tem a cobertura do FGC.

São muitos termos novos que surgem na vida de quem está começando, e muitas vezes a pessoa não sabe o que significam essas siglas ou como funcionam esses tipos de investimentos, instituições, seguros ou taxas. Este texto tem o objetivo de explicar o que cada uma dessas coisas significa, para deixar mais claro na cabeça de quem está chegando agora no mercado financeiro.

Afinal, o intuito das siglas é ajudar. É muito mais fácil dizer, por exemplo, “invisto em um CDB que rende X% do CDI” do que explicar que se trata de um Certificado de Depósito Bancário que rende X% do Certificado de Depósito Interbancário. A linguagem simplificada acaba sendo um processo muito mais prático.

O que é um CDB?

Vamos começar com duas siglas importantes: CDB e CDI. Primeiro, o que é um CDB? Como já mencionei, é um Certificado de Depósito Bancário. É um tipo de investimento onde você faz algo muito diferente do que a população costuma fazer. Geralmente, as pessoas vão ao banco para pegar dinheiro emprestado, mas, nesse caso, você está emprestando dinheiro para o banco por um prazo definido, com condições de liquidez variadas.

Alguns CDBs permitem que você retire o dinheiro quando quiser (são os CDBs de liquidez diária), enquanto outros têm prazos definidos, às vezes só no vencimento do título, em uma data combinada. Em troca desse empréstimo, você naturalmente recebe uma recompensa: os juros. Esses juros podem ser:

  • Pós-fixados: acompanham uma determinada taxa, como o CDI (já vamos ver o que significa).
  • Indexados a um índice inflacionário: como o IPCA (outra sigla que vamos abordar).
  • Prefixados: com uma taxa combinada no momento da compra.

Quando olhamos em uma corretora, a maior parte das opções de CDB costuma ser pós-fixada, ligada ao CDI.

O que é o CDI?

Agora, vamos à segunda sigla: CDI, que significa Certificado de Depósito Interbancário. “Junior, como assim interbancário?” Significa que um banco está emprestando dinheiro para outro banco. Sim, é exatamente isso!

Vamos entender o porquê. Bancos são negócios interessantes. Warren Buffett, um dos investidores mais bem-sucedidos de todos os tempos, já disse que o melhor negócio que existe é um banco bem administrado, e o segundo melhor é um banco mal administrado. Talvez ele tenha mudado de opinião, já que hoje faz parte da carteira dele, mas, em todo caso, por que ele dizia isso?

Porque os bancos fazem essa “mágica” de pegar dinheiro de você a juros baixos e emprestar para outras pessoas a juros mais altos. Além disso, eles conseguem emprestar até mesmo dinheiro que não têm, graças ao sistema de reservas fracionárias. Esse assunto é um pouco mais complexo, então vou deixar para abordar em outro momento. Mas o ponto é: os bancos estão sempre emprestando.

Como os Bancos Funcionam e o Papel do CDI

Os bancos operam de uma maneira peculiar: em determinados momentos, eles podem emprestar mais dinheiro do que realmente possuem. No entanto, se houver muitos saques ou retiradas, ou se ocorrer uma crise financeira (por exemplo, muitas pessoas pegam empréstimos e param de pagar), o banco pode ficar com menos reservas do que o Banco Central considera apropriado.

O Banco Central (muitas vezes abreviado como BC) atua como regulador nesses casos. Quando um banco precisa de mais reservas, ele pode pegar um empréstimo com outro banco. A taxa que esse segundo banco cobra para emprestar ao primeiro é justamente o CDI (Certificado de Depósito Interbancário).

Entenda que você não investe diretamente no CDI. O CDI é uma taxa de referência. O investimento que você faz é no CDB, mas o rendimento do CDB, quando pós-fixado, está atrelado a uma porcentagem dessa taxa do CDI.

Relação entre CDI e SELIC

A taxa do CDI geralmente acompanha de perto outra taxa importante: a SELIC. Por exemplo, no momento em que este texto foi escrito, a taxa SELIC estava em 5,25% ao ano, enquanto o CDI estava 0,1% abaixo, em 5,15%.

Perceba que, se a SELIC sobe, o CDI tende a subir também. Se a SELIC cai, o CDI acompanha essa queda. Essa relação estreita ocorre porque o CDI reflete o custo do dinheiro entre os bancos, e a SELIC é a taxa básica da economia, definida pelo Banco Central.

O que é a SELIC?

A SELIC, que significa Sistema Especial de Liquidação e Custódia, é a taxa básica de juros da economia brasileira. Para nós, investidores pessoa física, o que importa é que a SELIC é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

O IPCA é o índice oficial de inflação no Brasil. Ele mede a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços, como alimentos, transporte e moradia, em várias capitais brasileiras. Esse índice afeta famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos, o que representa uma faixa muito ampla da população.

Como o Banco Central Controla a Inflação

O brasileiro geralmente associa inflação ao aumento dos preços. No entanto, para quem segue a escola austríaca de economia, a inflação é vista como uma consequência do aumento da oferta monetária (mais dinheiro circulando). Mas esse é um assunto para outro momento.

O que importa aqui é que, quando a SELIC sobe, muitas vezes é porque há excesso de dinheiro circulando na economia, com muitas pessoas pegando empréstimos e consumindo mais. Isso gera uma demanda maior por uma oferta limitada de produtos e serviços, especialmente em momentos de restrições econômicas, como vimos durante a pandemia.

Para controlar a inflação, o COPOM (Comitê de Política Monetária), que é parte do Banco Central, se reúne a cada 45 dias para decidir se vale a pena aumentar a SELIC. Ao aumentar a SELIC, o custo do crédito na economia fica mais caro, o que desincentiva empréstimos e reduz a liquidez na economia. Isso ajuda a segurar a inflação. Quando a inflação está controlada, o COPOM pode reduzir a SELIC, já que não é necessário manter uma taxa tão alta.

Investimentos Atrelados à SELIC

O investimento mais famoso que acompanha a taxa SELIC é o Tesouro SELIC. Esse título público pode ser adquirido tanto pela plataforma do Tesouro Direto quanto por meio de corretoras. Hoje em dia, é difícil encontrar uma corretora que não ofereça a opção de investir em títulos públicos.

Voltando aos Investimentos de Renda Fixa Privados

Além dos títulos públicos, existem investimentos de renda fixa privados, onde você empresta recursos não para o governo, mas para instituições financeiras, como bancos. O CDB é um exemplo clássico, mas existem outros investimentos muito populares nessa categoria.

Investimentos Irmãos: CDB, LCI e LCA

Existem investimentos que são como “irmãos” no mercado financeiro, com regras semelhantes, mas com destinos diferentes para os recursos. Quando você empresta dinheiro para um banco através de um CDB (Certificado de Depósito Bancário), o banco pode usar esse dinheiro como quiser. Já quando você empresta através de uma LCI (Letra de Crédito Imobiliário) ou uma LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), os recursos são direcionados especificamente para iniciativas imobiliárias ou do agronegócio.

O governo busca estimular esses dois setores, pois são importantes para o PIB e para a geração de empregos. Para facilitar o financiamento dessas iniciativas, o governo isenta esses investimentos de Imposto de Renda. Isso torna as LCIs e LCAs mais atrativas para os investidores.

Diferenças entre CDB, LCI e LCA

A principal diferença entre um CDB e uma LCI/LCA é a isenção de Imposto de Renda nas LCIs e LCAs. Além disso, assim como os CDBs, as LCIs e LCAs podem ter indexadores variados:

  • Pós-fixados: atrelados ao CDI.
  • Prefixados: com uma taxa fixa combinada no momento da compra.
  • Indexados à inflação: geralmente ao IPCA.

As condições de liquidez também são combinadas no momento da compra. Algumas permitem resgates flexíveis, como liquidez diária (onde você pode resgatar o dinheiro a qualquer momento), enquanto outras têm prazos definidos, como 90 dias ou mais. No entanto, a maioria desses investimentos tem prazos de liquidez combinados.

Prazo e Atractividade dos Investimentos

Esses investimentos de renda fixa (CDB, LCI e LCA) são especialmente atrativos para prazos de até dois anos. Após dois anos, o CDB atinge a alíquota mínima de Imposto de Renda, que é de 15%. Nesse ponto, as LCIs e LCAs, por serem isentas de IR, tornam-se mais competitivas em comparação com os CDBs.

Cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos)

Todos esses investimentos (com exceção do Tesouro SELIC, onde você empresta dinheiro para o governo) contam com a cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Muitas pessoas veem essa cobertura como um tipo de seguro e pensam que esses investimentos são totalmente seguros, mas é importante entender como ela funciona.

O FGC é uma espécie de seguro, mas com algumas particularidades. Ele foi criado pelos próprios bancos e é mantido pelas instituições participantes. Quando um banco quebra, se você tem dinheiro em uma conta bancária, em um CDB, LCI, LCA ou até mesmo na poupança, você tem direito a uma cobertura de até R$ 250 mil por CPF naquela instituição. No total, considerando todas as instituições, a cobertura é de R$ 1 milhão por CPF.

Por exemplo, se você tem R$ 1 milhão e distribui R$ 250 mil em quatro instituições diferentes, você está totalmente coberto. No entanto, se você tem R$ 250.001 em uma única instituição, apenas R$ 250 mil estarão cobertos. O valor excedente (nesse caso, R$ 1) não será coberto pelo FGC.

Como o FGC Funciona na Prática

O FGC não é um processo automático. Se um banco ou financeira quebra, o ressarcimento pode demorar um pouco. Por exemplo, no aplicativo do FGC, é possível ver instituições que quebraram recentemente, como a Companhia Hipotecária Brasileira (em março de 2021) e a DACASA Financeira (em fevereiro de 2020). Se você tinha recursos nessas instituições, teria direito à garantia do FGC, mas o processo de ressarcimento não é imediato.

Experiência com o FGC

Em 16 anos de mercado financeiro, nunca precisei acionar a garantia do FGC. Nunca investi em um banco que quebrou. No entanto, é importante saber que, caso isso aconteça, o processo de ressarcimento pode demorar um pouco. Após a intervenção do Banco Central, o FGC entra em ação para garantir o pagamento. Normalmente, o dinheiro é devolvido em um prazo de 60 a 90 dias.

Limitações do FGC

Apesar de ser uma segurança a mais, o FGC não é infalível. Ele só paga se tiver recursos disponíveis. Enquanto apenas bancos pequenos enfrentam problemas, o FGC geralmente consegue honrar suas obrigações. No entanto, se um banco muito grande ou vários bancos tiverem problemas ao mesmo tempo, o FGC pode não ter recursos suficientes para cobrir todos os depósitos.

Um detalhe interessante é que o FGC tem um limite de cobertura de R$ 1 milhão por investidor. Esse limite é restaurado a cada quatro anos. Por exemplo, se você usar R$ 250 mil da garantia, terá que esperar quatro anos para que o limite volte a R$ 1 milhão. O FGC afirma que consegue cobrir 99% dos depósitos e investimentos, mas, em termos de liquidez, ele tem cerca de 1,95% do valor necessário para cobrir um grande evento sistêmico.

Investindo em Bancos Lucrativos

A melhor maneira de evitar problemas é investir em bancos lucrativos e bem administrados. Dessa forma, a chance de precisar usar a garantia do FGC é muito menor. Bancos têm diversas fontes de receita, como taxas de transferência, seguros, taxas de cartão e manutenção de contas, o que os torna mais resilientes em comparação com financeiras.

Letra de Câmbio (LC): O que é e Quais os Riscos?

Uma sigla que costuma causar confusão é a LC (Letra de Câmbio). Ao contrário do que muitos pensam, não tem nada a ver com câmbio de moedas (como dólar ou euro). A LC é um título emitido por financeiras, onde você empresta dinheiro para que elas possam emprestar para outras pessoas. Em resumo, é como um CDB, mas emitido por uma financeira.

Financeiras são geralmente mais arriscadas do que bancos, pois dependem quase exclusivamente da concessão de crédito. Quando a economia vai bem, muitas pessoas pegam empréstimos e consomem mais. No entanto, quando a economia vai mal, as prioridades mudam: as pessoas focam em pagar aluguel, alimentação e educação, e a inadimplência pode aumentar.

Por isso, ao investir em LCs, é importante lembrar que elas estão sujeitas à cobrança de Imposto de Renda, assim como os CDBs. Além disso, como financeiras são mais arriscadas, as LCs costumam oferecer taxas de retorno mais altas para compensar o risco adicional.

Últimas Siglas no Mundo da Renda Fixa: CRI e CRA

Além das siglas já mencionadas, existem outras duas importantes no mundo da renda fixa: CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) e CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio). Esses investimentos fogem do setor bancário e, por isso, não contam com a garantia do FGC. Isso significa que eles estão sujeitos a mais riscos.

O CRI e o CRA são semelhantes às LCIs e LCAs, mas com uma diferença crucial: enquanto nas LCIs e LCAs você empresta dinheiro para um banco, nos CRIs e CRAs você negocia diretamente com empresas. Esses títulos são lastreados em recebíveis imobiliários (no caso do CRI) ou do agronegócio (no caso do CRA).

Assim como as LCIs e LCAs, os CRIs e CRAs são isentos de Imposto de Renda. Isso ocorre porque o governo busca estimular esses setores, que são importantes para a economia.

Características dos CRIs e CRAs

Esses investimentos têm vencimentos variados e podem ser indexados de diferentes formas:

  • Pós-fixados: atrelados ao CDI ou ao CDI mais uma taxa.
  • Prefixados: com uma taxa fixa combinada no momento da compra (embora essa opção seja mais rara, especialmente em momentos de crise).
  • Indexados à inflação: geralmente ao IPCA mais uma taxa.

No entanto, os CRIs e CRAs costumam ser investimentos de longo prazo. A liquidez pode ser um desafio, pois o mercado para esses títulos é menos desenvolvido. Se você precisar vender antes do vencimento, pode acabar perdendo dinheiro, já que há poucos compradores negociando esses ativos.

Debêntures: Empréstimos Diretos a Empresas

Outro tipo de investimento de renda fixa são as debêntures, que são títulos de dívida emitidos por empresas. Ao comprar uma debênture, você está emprestando dinheiro diretamente para a empresa, que pode usar os recursos como quiser. Diferente dos CRIs e CRAs, as debêntures não estão necessariamente ligadas a projetos específicos, como imóveis ou agronegócio.

As debêntures também não contam com a garantia do FGC e estão sujeitas a mais riscos. Por isso, costumam oferecer taxas de retorno mais altas para compensar o risco adicional.

Comparando Investimentos: CRI, CRA e Bancários

Ao comparar CRIs e CRAs com investimentos bancários, é importante lembrar que os CRIs e CRAs são isentos de Imposto de Renda, enquanto os CDBs, por exemplo, têm tributação. Porém, os CRIs e CRAs devem oferecer um prêmio de risco maior para compensar a falta da garantia do FGC.

Antes de investir, faça as contas: retire o Imposto de Renda dos investimentos tributados e compare com os isentos. Se o retorno for menor, pode não valer a pena assumir o risco adicional. Em muitos casos, os investimentos bancários, com a garantia do FGC, podem ser mais atrativos.

Conclusão

Passei por uma visão geral das principais siglas do mercado de renda fixa, desde os CDBs e LCIs até os CRIs e CRAs. Essas opções são as mais populares, mas existem centenas de outras disponíveis nas corretoras brasileiras.

Espero que este conteúdo tenha facilitado a vida de quem está chegando agora no mercado financeiro. Se gostou, deixe um comentário sugerindo novas pautas ou pedindo um aprofundamento em algum tema específico. Sua opinião ajuda a direcionar os próximos conteúdos.

Um grande abraço e até a próxima!


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